Falar de Carlos Paredes é, para mim, muito mais do que falar de um músico genial, é falar de alguém que teve um impacto enorme no meu percurso enquanto músico. A descoberta da sua obra levou-me, há 18 anos, a editar um disco ao qual chamei ?Ao Paredes Confesso?, onde me propus dialogar com ele, através de algumas das suas maravilhosas e eternas melodias. Passados estes anos, percebo o efeito que tudo isto teve em mim, levando-me a explorar universos que eu pensava estarem tão distantes do meu mas que, na verdade, se tocam formando, na realidade, um só. Senti uma vontade inesperada de celebrar tantas viagens entre o Jazz, o Fado, a Canção e o Fado de Coimbra e talvez por tudo isto me sinta Entre Paredes.
BERNARDO MOREIRA
Ao Paredes Confesso (2002, Universal), foi a primeira incursão de Bernardo Moreira no repertório de Carlos Paredes, trazendo-o para o universo do Jazz, meio onde o contrabaixista português sempre se moveu.
19 anos depois voltava a mergulhar no vasto e rico legado musical que o mestre nos deixou e lançava o disco Entre Paredes (2021, JACC Records) conduzindo, desta vez, os seus arranjos e o seu sexteto ao encontro da portugalidade presente em temas como ?António Marinheiro?, ?Canto do Amanhecer? ou ?Serenata no Tejo?, e fechando um ciclo de trabalho em torno da recepção da obra do guitarrista Carlos Paredes ao longo dos anos.
«Tive umas incursões pela música popular, pelo fado de Coimbra, e comecei a sentir que a minha maneira de ouvir o Carlos Paredes tinha mudado», disse Bernardo Moreira, 59 anos, nascido numa família com longa ligação ao jazz, em declarações à Agência Lusa no início de 2021. Entre a escuta renovada dos temas de Carlos Paredes e o trabalho de apropriação e composição, o contrabaixista demorou três anos a concretizar o álbum Entre Paredes. A gravação aconteceu em novembro de 2020, no Convento São Francisco, em Coimbra, cidade à qual o contrabaixista tem ligações familiares, e onde Carlos Paredes nasceu a 16 de fevereiro de 1925.